Capítulo II: Em busca das coordenadas
— Você vai mesmo? — Roman Stuart, um velho amigo, se não o único que Harry ainda considera, pergunta surpreso.
— Não acha que Eroda é de verdade, certo? — O marujo cheio de ego questiona desacreditado.
— Eu já ouvi muitos marujos como você dizendo que existe. — O amigo dá de ombros.
— Como eu? Eles não são marujos de verdade. Já vi muitos desses negando serviço porque o mar estava agitado, então é certo que espalharam por aí esses boatos sem fundamentos. — Harry porfia indignado. Como ainda acreditam em lendas e blasfêmias? ele indaga-se.
— Me poupe das suas histórias. Não aguento mais saber que você brigou com o mar quando foi levar uma carga enorme de peixe. — Roman revira os olhos.
Pirata, como Ethan apelidara, sorve um pouco da tequila posta em seu copo. A bebida desce como fogo a queimar tudo, mas já acostumado com bebidas piores, não liga para a reação que uma mínima dose do líquido destilado causa dentro de si.
— Mas você sabe para qual lado ir? — Stuart jogou um pedaço de torresmo na boca após falar e o outro apenas negou com a cabeça.
— Ethan disse que John Lee desapareceu porque foi nessa viagem. Você sabe algo sobre?
— Não muito. Havia surgido esse boato mesmo, mas Freddie abafou tudo. — Murmurou mastigando o petisco crocante.
Ele quer perguntar sobre Freddie, mas mede o quão estúpido aquilo sairia. Os dois não se dão muito bem por pequenas provocações que sempre acaba com grandes brigas e destruição. Colocar os dois juntos é o mesmo que atear fogo no pavio de uma bomba.
— Você sabe de Freddie? — Harry custa em perguntar.
— Ele está na taverna da Sra. Hanna, trabalhando no abastecimento das bebidas.
— Preciso dele. — Sussurra para si mesmo causando um riso abafado do amigo.
— Harry Styles, o marujo mais orgulhoso de Coastmead, vai precisar do seu arqui-inimigo? Isso realmente é novidade para mim.
— Vai a merda.
Harry muda sua feição de tédio para seriedade e frieza. Quanto ao Roman, gargalha alto e bate com o punho na mesa de madeira rústica, fazendo um pouco de bebida cair para fora do copo.
— Eu não posso acreditar, estou sonhando?
— Não espalhe isso por aí, entendeu?
— Qual parte? A de que você vai atrás de Eroda por causa de uma aposta feita por Ethan, o cara mais idiota de todos ou que vai precisar de Freddie Lee para algo?
— Se você falar algo, eu estouro os seus miolos.
— Minha boca é um túmulo.
— Depois não diga que eu não avisei.
Harry toma o resto da dose de tequila em dois segundos. Após isso, deixa o bar rompante e decidido de que faria o Freddie dizer todas as coordenadas, nem que para isso precisasse quebrar todos os seus dentes. Como suas pernas eram compridas, e a andar em passos largos, em poucos minutos estava na taverna. A dona era uma velha com um espírito jovem e festeiro. Sendo assim, seu estabelecimento era sempre colorido e agitado. Todas as noites tinha shows e muita dança. Era um dos lugares – senão o lugar – mas alegre daquela cidadela pacata e assombrosa.
Ao invés de entrar pela frente e ser recebido por risadas e mulheres grudentas, Styles prefere seguir pelos fundos. Queria evitar toda aquela felicidade exacerbada e perder a paciência que já não era uma das maiores.
Após chegar na área onde acontece o abastecimento, vê o homem de cabelo amarelado, motivo pelo qual Ethan o chama de Yellow, a carregar um barril de bebida. O marujo espera que volte com as mãos vazias para trocar palavras com ele. Assim que ele aponta na sua vista, é rápido em puxá-lo bruscamente para fora da taberna. O rapaz magro, porém com uma força brutal tenta desvencilhar-se dos braços de Harry e assim que consegue, dá-lhe um soco no abdômen.
— Eu vim em paz! — Styles diz e afasta-se um pouco para não receber outro golpe.
— O que quer aqui? — Freddie fita-o com um olhar assustador.
— Eu soube que seu pai foi atrás da ilha de Eroda e... — Antes que pudesse terminar sua fala, o de cabelos cacheados é interrompido.
— Como descobriu isso? — O de cabelo cor de palha questiona a contragosto.
— Isso não importa agora. — Harry dá de ombros, a perder sua pouca paciência que ainda restava.
— Ou diz qual desgraçado disse ou não digo nada. — Cruza os braços. Harry odeia esses joguinhos manipuladores, por isso não o suporta.
— Ethan disse.
— Eu vou matá-lo, aquele alcoólatra de merda. — Esbraveja revoltado.
— Quero saber se você tem as coordenadas que seu pai mandou por uma garrafa. — Harry ignora completamente o comentário homicida e diz logo o seu pedido.
— Por que quer isso? — Styles bufa e sabe que a resposta que dirá agora é uma maluquice.
— Vou tentar achar o lugar.
Resmunga baixo e espera uma risada sarcástica, porém recebe somente um olhar entediado.
— Pelo o que? — Quis saber Lee.
— Como sabe que vou em troca de algo?
— Você é esperto o suficiente para saber que ir até lá é um caminho sem volta.
— Ainda não decidi.
— Você é louco de ir sem deixar nada acordado. — O abastecedor balbucia. — Eu pediria um pedaço daquele terreno dele. — Diz, dando de ombros.
— Vai me dar as coordenadas ou não? — Harry volta ao objetivo daquela conversa, rudemente.
— Dou se você me der cinquenta por cento do seu prêmio. — Freddie cruzou os braços e propôs um acordo que o marujo discordou imediatamente. É óbvio que nunca aceitaria isso.
— Dou no máximo vinte.
— Trinta. — Styles ainda pensa em recusar, mas qual escolha tem?
— Trinta e não falamos mais nisso.
Os dois cospem na mão direita e selam então o acordo.
— Espero que seja esperto e queira aquele terreno.
Até a próxima!
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