Os bichos estavam animados, em especial os pássaros, pois haveria uma festa no céu. O convite foi espalhado rapidamente pela floresta.
O sapo, festeiro que era, logo se interessou pela celebração celestial. Por isso, quando o dia da festa raiou, decidiu falar com o urubu violeiro para levá-lo consigo.
O urubu conversava animado na roda de amigos pássaros de sua banda quando o sapo pulou para o meio deles. Sem demora, o sapo entrou no papo, tentando arranjar uma forma de chegar no assunto da festa. Assim que teve a oportunidade, disse ao urubu:
— Urubu, me leve com você para a festa. Sou leve, nem vou fazer peso.
— Você não ouviu as proibições da festa?
— Que proibição? — O urubu gargalhou alto.
— Não pode entrar animal que tem a boca grande. — O violeiro continuou, debochado.
O fim de sua fala foi seguido por risadas dos seus amigos e o sapo fitou ele intrigado.
— Eu vou de todo jeito, você vai ver. — Decretou em tom de desafio e pulou para longe das risadas novamente lançadas em sua direção.
Ele pensou em como faria para chegar na festa e uma ideia saltou em sua mente. Iria na boca do violão do urubu que, assim como a sua, era grande.
Quando chegou a noite, o sapo caçou o violão e achou-o encostado nos outros instrumentos. Foi cuidadoso até o instrumento e espremeu-se entre as cordas, finalmente entrando no seu esconderijo.
Não demorou muito tempo e o urubu pegou o violão. Sacolejando, achou esquisito a diferença de peso.
— Tá muito pesado esse violão. — Disse para si, desconfiado.
O sapo mantinha-se calado e com os olhos de bola de gude vidrados para a boca do violão. Antes que o urubu fosse achar o motivo do acréscimo de peso, seus amigos o chamou. Estavam atrasados para a festa, precisavam chegar logo.
O urubu passou a correia do violão pelo corpo e voou com rapidez até o seu destino, as vezes ficando para trás devido ao peso extra que carregava.
Ao chegar na festa, foi para a fila onde todos estavam sendo revistados, para que ninguém com a boca grande entrasse.
Antes de chegar a vez do urubu, o sapo decidiu sair do violão, para passar despercebido. No entanto, flagraram ele.
— Ei, sapo não pode entrar. — Os guardas pássaros disseram, encurralando o sapo e o urubu.
— Mas eu tenho a boca pequena. — O sapo tentou disfarçar, comprimindo sua boca em um biquinho.
— Mentira seu guarda, ele tem a boca grande. Eu conheço ele. — O urubu se meteu, lançando um sorrisinho convencido para o sapo.
— Ah, então o senhor trouxe ele mesmo sabendo disso? — Um dos guardas voltou-se para o urubu. — Pois o senhor também vai para fora.
Ordenou, pegando nas asas do urubu, enquanto o sapo era varrido pelas asas do outro guarda.
— Mas…
— Isso é uma injxustiça! — Balbuciou o sapo, ainda com a boca em bico.
Os dois foram enxotados para fora do céu e o urubu estava enfurecido por ter sido expulso da festa.
— Vou te jogar daqui de cima na estrada. — Ameaçou, arremessando o sapo para dentro do violão e ganhando voo.
O sapo quase infartou ao ter ouvido sua sentença. Apesar disso, mesmo com uma grande certeza de que iria morrer, decidiu lutar pela sua vida, arriscou um ato de astúcia.
— Pode me jogar seu urubu, pode me jogar na estrada. Só, por favor, não me jogue na lagoa. A água está tãoooo fria, vou morrer de hipotermia. — Suplicou o sapo.
O urubu olhou de relance para a boca do violão, onde estava o sapo, e sorriu com superioridade.
— Pois vou jogar você na água fria da lagoa.
O sapo não estava preparado quando foi largado do alto, mas sentiu-se feliz ao mergulhar na água. Ele gargalhou alto por seu plano ter dado certo.
Quanto ao urubu violeiro, só depois de ter feito aquilo, ele se deu conta de que foi enganado, ele tinha jogado o sapo pilantra no seu habitat natural. Sobrevoou sobre a lagoa, tentando pegar o sapo astuto, mas nem sinal dele.
Por fim, suspirou, aceitando a derrota e foi embora revoltado com sua falta de sorte naquele dia.
Durante o resto da noite, com o perigo já passado, o sapo sentou-se em uma pedra com lodo e apreciou o céu sobre sua cabeça, abrindo sua bocarra impressionado com as luzes da festa no céu que foi noite adentro.
Comentários
Postar um comentário
Obrigada pela leitura! <3