Capítulo V: A bravura do mar
Duas horas no mar e o céu mudou completamente de figurino. O vento está alterado e parece querer brigar com a embarcação. O mar sempre é uma caixinha de surpresas, nunca se sabe quando haverá uma tempestade. Harry não sabe se é por nunca ter navegado por aqueles mares ou se a tempestade já queria despontar – já que saíra com a cara e coragem, não houve tempo para conferir a previsão – mas sente uma pressão enorme sobre si. Ethan está assustado na cabine, ao lado de pirata, a fazer milhares de perguntas. Nenhuma delas é respondida e Styles mantêm sua testa franzida de concentração sobre o que está a fazer.
— Pirata, você sabe o que está fazendo não é? Eu não quero morrer hoje! — Diz pela milésima vez.
— Faça o favor de ficar de bico fechado. — Harry responde-lhe em tom de repreensão.
— Por que inventei de ir nessa viagem? — Hart pergunta-se.
Gotas de água começam a cair e não tem-se conhecimento se são apenas respingos da água do mar ou chuva. Após um raio cair, seguido de um alto e estrondoso trovão, há a certeza de que se trata de chuva. Com receio de morrer, Ethan agarra-se à sua bolsa de bebidas e chora como se não houvesse amanhã. Claro que isso é o efeito do álcool. Harry olha para o lado onde Hart está e lembra-se que ele disse a todos que não sentia medo de nada. Pensa em rir da estupidez, mas se contém. Não era hora de rir, afinal.
Styles também sente medo, como qualquer outra pessoa, porém tem dentro de si que caso morra no mar, morrerá feliz. Para ele isso é o que importa, morrer lutando contra algo que não pode ser controlado e tem uma força insólita. Morreria feliz, disso tem plena certeza.
O balanço do barco está cada vez mais agressivo e insuperável. Ambos viajantes estão a tremer os dentes e soltar fumaça pela boca por culpa do frio insuportável. A saber que não será possível vencer o mar, o marujo põe sua bolsa nas costas e espera pelo pior.
— Por que você está colocando sua bolsa nas costas? — O ruivo fala com a voz um pouco alterada.
— Preciso mesmo responder? — Styles indaga calmamente.
— Nós vamos morrer. — Ethan afirma com a voz esganiçada.
— Oh, parabéns! Você respondeu a uma de suas próprias perguntas. — Harry murmura sarcástico.
— Você não acha isso assustador?
— Entre morrer a suplicar e morrer satisfeito por tudo o que já viveu, prefiro a segunda opção.
— E eu prefiro a que fico vivo.
O balanço agressivo do mar golpeia os dois passageiros para o outro lado da cabine. Ambos batem com a cabeça e aos poucos começam a perder a consciência. Enquanto isso, a água entrava cada vez mais no barco e parecia vencer mais e mais a luta. Harry vê um filme passar em sua mente, repleto de memórias, até que tudo torna-se preto e então sua consciência começa a fantasiar pensamentos repreendidos por ele durante toda a sua vida.
Na beira do mar, o garotinho corria alegremente ao lado de uma figura feminina. Seus cabelos cacheados esvoaçados davam-lhe um aspecto gracioso. Era realmente um rapazinho de muita luz. Ele tinha traços semelhantes ao da mulher ao seu lado, mais do que uma fisionomia, tinham características bem parecidas. O mar para os dois representava a vida, seus vazios eram preenchidos pela vastidão de água salgada, que parecia fazer flutuar os pensamentos, carregá-los para longe.
No entanto, nuvens de chumbo aparecem sem avisar e as ondas agitam-se. Transformam o horizonte calmo em algo brutal e agressivo. A mãe de Harry não parece horrorizada, mas preparada para defender seu filho daquele terrível perigo. Ela sinaliza, para que ele não saia de onde está e prepara-se para enfrentar a grande onda. Aquela onda não era igual a todas as outras, era a onda da morte, que iria carregar sua mãe. Mas ela lutaria, sim ela lutaria com toda a garra e precisão. Lutaria pelo seu filho.
O pequeno Styles tenta sair de onde sua mãe ordenou que ficasse, porém não consegue. Seus pés estão fincados no chão, raízes o prendem no lugar e ele não consegue movimentar-se. Seu olhar é de puro horror. Lágrimas rolam pelas suas bochechas e os olhos que antes brilhavam, agora refletem a cena à sua frente. De sua mãe sendo engolida pela onda, mas sem desistir. Nunca, ela nunca desistiria.
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