Por que os sábados são tão tristes?

 Da minha janela quase nada consigo ver. É desinteressante que ela fique de frente para um muro terrivelmente mal cuidado e com grampos em seu topo. Após os grampos, parte do caule e as folhas de um pé de mamão mostram-se para mim, além do telhado da casa vizinha. Mais ao fundo, no horizonte do meu ponto de vista, um alto e cabeludo pé de coco completa a paisagem muito pouco mutável. Mas algo salva a paisagem da minha janela. Muito além de grampos, muro desgastado, um pé de coco ou mamão, o céu que todos os dias vem com um novo tom e ritmo de rotação mantém a vista da minha janela aceitável. 

Aprecio a partir dela muitos horizontes celestes. E sim, é legal que o céu da minha janela seja virado para o centro do polo sul celeste e que todas as estrelas girem naquela direção. Imagino muitas coisas durante a noite, apenas a escrutinar a visão da minha janela. Imagino o que há além do que consigo ver. E às vezes bate aquele ventinho, sabe? O ventinho da lua prestes a apresentar-se no céu. A sensação de tudo isso é mágica. Sinto que poderia ser quem quiser, porque nesses momentos, onde apenas eu e o céu da minha janela estamos conectados, consigo elevar meu pensamento a boas emoções, a lembranças e ao futuro. 

Aqui e agora, me deixando perceber essa fática janela, numa sexta-feira, faz-me imaginar que as sextas são embaladas para que os sábados iniciem com uma virada de noite, seja por festas ou apenas para ter um pouco de paz. Se passa ouvindo música pela embriagante rua da madrugada sabatista, ou até mesmo lendo e sonhando com a vida de quiméricos seres. Ainda ver um filme ou escrever alguma ideia legal. Mas, no fim, quando todos deitam suas pensantes mentes no travesseiro e se preparam para dormir, a madrugada desse dia é diferente. Porque concluir a semana, pensar no possível domingo deprimente ou saber que o sábado chegou sem avisar é redondamente a certeza de que tudo pode acabar rápido. Dorme e então os sonhos mais loucos permeiam a mente. Sonhos de pensamentos enraizados.